domingo, 2 de março de 2014

Frida Kahlo: Figurinista de si mesma

   Há algum tempo venho lendo e me interessando pela biografia da artista mexicana Frida Kahlo. Eis que eu estou lendo o capítulo 08 da biografia escrita por Hayden Herrera,2011, e me deparo com um trecho sobre as vestimentas de Frida. O estilo de Frida é de impressionar qualquer um que esteja atento aos elementos visuais. Tanto que Frida, de uns tempos para cá, virou um ícone e inspiração no campo da arte, da literatura e da moda. Copiei um trecho do livro que fala sobre as roupas de Frida e a forma que ela se vestia. Veja que interessante:       

          “Claramente, não foi a informalidade boêmia que instigou Frida a usar em seu casamento roupas emprestadas de uma criada indígena. Quando optou por vestir as roupas tehuanas , Frida estava escolhendo uma nova identidade, o que ela fez com todo o fervor de uma freira que toma o véu. Mesmo em menina, para Frida as roupas eram uma espécie de linguagem, e a partir de seu casamento as intrincadas relações entre roupas e auto-imagem, e entre estilo pessoal e estilo de pintura, foram uma das tramas secundários do desenrolar de seu drama.
            O traje que Frida decidiu adotar era o das mulheres do istmo de Tehuantepec, e as lendas em torno delas sem dúvida informaram sua escolha: as mulheres de Tehuantepec são famosas por serem imponentes, sensuais, inteligentes, corajosas e fortes. Segundo o folclore, vivem em uma sociedade matriarcal, em que as mulheres dirigem os mercados, cuidam das questões fiscais e dominam os homens. E a roupa é linda: um blusão bordado e uma saia comprida, geralmente de veludo vermelho ou púrpura, com uma prega de algodão branco na bainha. Os acessórios incluem correntes de ouro e colares de moedas de ouro, que constituem o arduamente conquistado dote das moças, e, em ocasiões especiais, um primoroso adorno na cabeça com plissês rendados e engomados, semelhantes a um rufo elisabetano de tamanho fora do comum.            
            Às vezes, Frida usava trajes de outras épocas e lugares, às vezes, misturava elementos de diferentes trajes em um conjunto cuidadosa e harmoniosamente combinado. Ela podia usar huaraches (sandálias) indígenas ou botinhas de couro do tipo usado nas províncias no início do século, bem como pelas soldaderas que tinham lutado junto de seus homens na Revolução Mexicana. Às vezes, quando posava para a fotógrafa Imogen Cunningham, Frida enrolava o rebozo em torno do corpo, à maneira de uma soldadera. Em outras ocasiões, envergava um lenço de seda espanhola, ricamente bordado e decorado com franjas. Camadas de anáguas, em cujas bainhas a própria Frida bordava ditos populares mexicanos obscenos, conferiam a seu andar graciosidade e balanço especiais.
            Para Frida os elementos do vestuário eram uma espécie de paleta, da qual ela selecionava cada dia as imagens de si mesma que queria apresentar ao mundo. As pessoas que assistiam ao ritual com que Frida se vestia lembram o tempo e os cuidados que ela dedicav ao ato de escolher as roupas, de seu perfeccionismo e precisão. Muitas vezes, com uma agulha nas mãos, ela improvisava antes de colocar uma blusa, acrescentando uma fica aqui, uma renda acolá. Decidir que sinto combinava com a saia era uma questão séria. “Funciona?” ela perguntava “Ficou bom?” Frida encarava com um atitude estética o ato de se vestir,  recorda a pintora Lucile Blanch “ Ela estava pintando um quadro completo, com cores e formas.”
            Para acompanhar os trajes exóticos, Frida arrumava os cabelos em diversos estilos, alguns penteados típicos de certas regiões do México, alguns de invenção própria. Ela puxava os cabelos para trás, às vezes com tanta força nas têmporas que chegava a doer, e depois os amarrava ou trançava com fitas coloridas de lã e decorava com tiaras, grampos, faixas ou primaveras frescas. Uma grande amiga observou que, quando ela prendia os cabelos, cravava os dentes do pente no couro cabeludo, com um “masoquismo coquete”. Anos depois, já mais fraca, ela gostava que a irmã, a sobrinha, ou alguma de suas amigas íntimas se incumbisse da tarefa de pentear seus cabelos “Arrumem meu cabelo”, ela pedia, “Penteiem meu cabelo”.
            Frida adorava jóias, que desde os primeiros dias de casados Rivera lhe dava em profusão, como se dedicasse oferendas a uma princesa indígena. Ela usava jóias de todo tipo, de contas de vidro baratas a pesados colares pré-colombianos de jade, de adornados brincos pendentes coloniais a um par no formato de mãos, presente que ganhou de Picasso em 1939. Seus dedos exibiam um desfile de anéis em constante mudança, com peças de diversos estilos e origens. Em gestos de generosidade impulsiva, as pessoas davam-lhe anéis de presente, e Frida os distribuía com a mesma prodigalidade.
(...)
Obviamente , até certo ponto Frida escolheu vestir-se como uma mulher tehuana pela mesma razão pela qual adotara a mexicanidad: para agradar a Diego.
(...)

A bem verdade, Frida era uma mulher da cidade, formada em um ambiente burguês, e depois “boêmio da classe alta”, que nada tinha a ver com a vida “simples” dos índios mexicanos. E não é improvável que para Frida, assim como para outras pessoas de seu meio que se vestiam com trajes mexicanos, a opção por usar roupas campesinas estava relacionada à noção, então em voga, de que os camponeses e índios são mais ligados à terra, e portanto mais profundamente sensuais, mais “reais” do que a gente urbana sofisticada. Ao vestir trajes nativos, as mulheres declaravam a primazia de sua ligação com a natureza. O traje era uma máscara primitiva que as libertava dos usos e costumes burgueses. ‘’ p.140,141,142 















Disponibilizo aqui também o link para acessar um artigo que achei interessante sobre o mesmo tema:

http://www.coloquiomoda.com.br/anais/anais/9-Coloquio-de-Moda_2013/POSTER/EIXO-7-FIGURINO_POSTER/Frida-Kahlo-Figurinista-de-si-mesma.pdf

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